13 de nov. de 2010

Na escola e na universidade, quando falta diálogo sobra denúncia

Peter Senge afirma no prefácio do livro de Adam Kahane, Como resolver problemas complexos[1], que enfrentamos situações para as quais a autoridade hierárquica é cada vez menos eficaz na busca da solução. A afirmação cabe, tranquilamente, no espaço das organizações educacionais. Nas relações que se estabelecem entre os sujeitos que dão sentido aos processos de aprendizagem sejam nas salas de aula, nos gabinetes administrativos, nas trocas informais dos corredores, pátios, laboratórios e outros, ainda prevalece a interlocução entre os papéis que cada um exerce em detrimento da conversa entre pessoas.

A situação clássica ainda pode ser encontrada na sala de aula. Até bem pouco tempo, o espaço por excelência de uma escola ou universidade, recebia apelidos que iam de denominações menos nobres como caixa preta - espaço que encerra em forma de segredo uma rotina inacessível ao restante da escola - aos termos neutros como verdadeira escola, na qual o professor fechava a porta e fazia acontecer, do seu jeito, a proposta pedagógica professada pela instituição; até denominações mais otimistas como espaço sagrado, no qual acontece o milagre da aprendizagem. Mesmo com todo o avanço acelerado do século XXI, muitos professores continuam acreditando em uma sala de aula hermeticamente fechada.

Não bastasse a transparência e a facilidade de manejo das informações que caracterizam os estudantes do século XXI, os recursos tecnológicos estão acabando de vez com os mistérios da sala de aula que, culturalmente, acabaram influenciando a forma de comunicação de toda organização educacional. Crianças, adolescentes e jovens nascidos na era da interlocução e do diálogo não conseguem entender adultos / professores que buscam consolidar seu papel, exclusivamente a partir do lugar de comando, de poder. Escutar, falar, dar exemplo, enfim, comunicar é amálgama das relações em tempos de sociedade aberta. Quando a comunicação não flui, os acordos não se estabelecem sobre relações justas, o diálogo não acontece e, no caso da escola, entram em cena os celulares, as filmadoras ocultas, as gravações clandestinas que expõe a sala de aula para o mundo em vídeos, comentários e histórias reveladas que, em alguns casos, chegam até à rede mundial.

Sintomas de relações desgastadas entre sujeitos que estão buscando ressignificar seus papéis para além das relações hierárquicas, as denúncias e questionamentos, as intervenções por vezes desmedidas tendem a reencontrar seu equilíbrio, a partir da abertura para o diálogo. A escola precisa, com urgência, colocar-se em situação de igualdade, não de saberes e experiências, com estudantes e suas famílias, mas sim de disposição para escutar, falar e aprender. O movimento precisa ser iniciado por gestores educacionais. São diretores e coordenadores que darão o tom da abertura ao escutar e falar com os professores e lideranças estudantis, deflagrando a cultura do diálogo que se consolidará por todos os espaços da escola, da universidade, dos sistemas educacionais, enfim, do grande processo de educação que vai além da organização educacional e envolve a sociedade.

                
[1] KAHANE, Adam. Como resolver problemas complexos – uma forma aberta de falar, escutar e criar novas realidades. São Paulo: Editora Senac, 2008.

2 comentários:

  1. Parabéns pelo blog!
    É a primeira vez que passo por aqui. Tens, agora, mais uma leitora assídua... acompanharei, sempre, as novidades!
    Força na missão de pensar e ajudar a refletir acerca da comunicação que somos e fazemos!
    Bjo.

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  2. Ter uma interlocutora da tua qualidade é verdadeiro estímulo para caprichar mais e manter essa espaço atualizado.
    Abração e venha sempre!!

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