15 de jun. de 2011

Artigo de Elio Gaspari é alerta para gestores: a escola não é uma sociedade secreta

Não resisti e vou reproduzir aqui o artigo assinado pelo colunista de O Globo, Elio Gaspari, que, neste dia 15/6/2011 publicou um texto forte e contundente na sua coluna. Ao analisar fatos recentes ocorridos em colégios tradicionais do Rio de Janeiro, alerta para a prepotência de gestores educacionais e para a tentativa das organizações educacionais de se fecharem em seus muros e manterem em seus domínios a informação sobre conflitos e confrontos. Ele afirma: a escola não é uma sociedade secreta. Leiam!


POLÍTICA

Colégios bons, caros e mandões

Elio Gaspari, O Globo
Em menos de um mês, três colégios tradicionais do Rio caíram no noticiário policial. Bem feito.
O São Bento e a Escola Alemã Corcovado por conta da maneira como lidaram com agressões sofridas por alunos. No São Bento, envolvendo dois jovens, um de 14 anos (batendo) e outro de 6 (apanhando). Na Corcovado, com um professor acusado de empurrar e derrubar um menino de 12 anos. No terceiro caso, no pH, da Abril Educação, a mãe de uma aluna do primeiro ano do ensino médio diz que a diretora e dois professores exigiram que a jovem apagasse textos que pusera numa rede social. Nela, trocava informações sobre tarefas escolares e provas.
Os pais dos estudantes resolveram defender o direito de seus filhos buscando a proteção do Estado e de suas leis. Isso aconteceu em escolas do andar de cima. O São Bento é campeão de desempenho no Enem, a Escola Alemã ficou em 9 lugar e o pH em 14. Suas mensalidades chegam a R$ 1.900.
Os três episódios, diferentes entre si nas circunstâncias e na gravidade, tiveram em comum a postura prepotente da direção das escolas diante dos malfeitos.
Na Escola Alemã, quando a diretoria soube que a família do estudante agredido pelo professor dera entrada num processo contra o colégio, decidiu expulsá-lo. Expulsaram também seu irmão. Explicando-se, os doutores disseram que os jovens foram mandados embora para preservar um ambiente em que prevaleça "a confiança, o respeito e a cooperação entre pais e escola". Beleza, expulsaram os filhos porque discordam da conduta dos pais. Quanto ao professor, voltou para a Alemanha.
O São Bento chamou a agressão de "acidente" e informou que "repudiamos (...) qualquer atitude desavisada ou que extrapole o âmbito educacional que qualquer um tome em relação ao fato em questão". Como se a busca de um direito fosse indisciplina. Segundo a escola, o caso, restrito ao aspecto educacional, fora resolvido com a aplicação de uma "sansão" ao aluno agressor, suspenso por um dia. (Sansão é o namorado da Dalila.)
O colégio pH informou que suspendeu a aluna de 15 anos porque ela "usava o logotipo da instituição e veiculava material didático do colégio sem autorização e de forma inadequada". É um caso diferente e a Justiça dirá se a escola teve razão. Mesmo assim, veio a ladainha: lamentou que um assunto de cunho educacional tenha sido levado ao tribunal.
Não ocorreu a nenhum dos três educandários que escolas não são sociedades secretas e ir à Justiça é um direito. É saudável que os colégios defendam seus códigos de conduta nas cortes, até para desautorizar pais reclamões. Se as escolas acham que devem ficar fora do alcance do Judiciário, que mais ensinam?
Vejam os doutores da Escola Alemã o que lhes aconteceu em 1974: sua direção demitiu uma professora, ela não gostou e sua queixa chegou a um general. O Serviço Nacional de Informações investigou secretamente o colégio e concluiu que "visa a Escola Corcovado preparar em seus bancos escolares uma elite de brasileiros e alemães, para que em futuro próximo, constitua um grupo de defesa de interesses políticos alemães no Brasil".
Havia ali "um foco de contrabando ideológico e de revolução pedagógica, incompatíveis com as diretrizes politico-educativas nacionais".

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